segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Musica para Deus

                            Música para Deus
           Conforme Israel transformou-se em uma nação sedentária, as instituições começaram a se desenvolver, sendo que a mais importante entre elas foi o estabelecimento de um santuário permanente. Por volta da mesma época, um conjunto de material poético e de música estava sendo agrupado, uma atividade que iria, eventualmente, resultar em uma consumada academia de música.
             Evidencias textuais apontam para o fato de que alguns cânticos eram produto das escolas dos profetas. Em I Crônicas 15:17, 19 e 16:4-6, 41, 42, aprendemos que os três músicos dirigentes, Asafe, Hemã e Jedutum (Etã) foram escolhidos por Davi para o serviço de música. Quando os encontramos novamente, e seus cânticos, por ocasião da dedicação do Templo de Salomão (II Crônicas 5:12, 13), suas tarefas são apresentadas em termos de “ministério de profetizar ao som de harpas, liras e címbalos.” (I Crônicas 25:1).  
           Ao dizer isto, o texto faz uma referência direta às escolas dos profetas, que foi iniciada por Samuel. De fato, lemos em I Samuel 10:5 que era costumeiro para esses estudantes ajuntar-se em “um grupo de profetas que virão descendo do altar do monte tocando liras, tamborins, flautas (halil) e harpas; e eles estarão profetizando.” Assim, Primeiro Crônicas 25 cria uma ponte entre as atividades musicais e litúrgicas que eram parte das escolas dos profetas, e o serviço musical no templo. Parece, então, que os grandes músicos do templo, Davi, Asafe, Hemã e Etã, tinham sido treinados na arte da poesia e música durante seus estudos nas escolas dos profetas. E, com efeito, são os seus nomes que encontramos nos títulos dos salmos como sendo os principais autores dos Salmos.
                A música no templo não era deixada a acontecer ao acaso. A solenidade do lugar e da ocasião é refletida no cuidado e atenção que era dada  à organização da música no templo de Jerusalém.
               Várias passagens em I Crônicas realmente descrevem um quadro impressionante desta organização. 4000 pessoas faziam parte desta academia (23:5), 288 dos quais eram profissionais (25:7) revezando-se no serviço do templo. Este texto nos fala sobre “eles e seus parentes, todos capazes e preparados para o ministério do louvor do Senhor”.              
           Os músicos eram agrupados em várias categorias, de acordo com as suas especialidades: Asafe foi nomeado chefe dos músicos (16:5); Hemã era o responsável pelos que tocavam trombetas (16:42); Quenanias era o supervisor dos cantores” (15:22). Todos os três líderes usavam os címbalos para assinalar várias atividades ou mudanças de atividade, e estavam “sob a supervisão do rei” Davi (25:6), o qual havia se distinguido como compositor, autor, executante e construtor de instrumentos. De acordo com o Talmud, o treinamento acontecia até que os músicos alcançavam a idade de 25 ou 30 anos; então eles eram ativos profissionalmente até a idade de 50 anos. Outras tarefas incluíam a construção e manutenção de instrumentos. Salas específicas no templo acomodavam os instrumentos e as vestimentas, e também serviam para alojar os músicos levitas que “dia e noite se dedicavam à sua própria tarefa” (9:33). Suas tarefas consistia em “ministrarem regularmente”, primeiro junto à arca, depois no altar, “de acordo com as prescrições para cada dia” (16:37). O propósito principal dos músicos do templo, então, era cantar Salmos para acompanhar os sacrifícios diários, e produzir música para outros dias e festividades especiais.
         Este elemento de beleza também estava presente nos eventos ao ar livre. Quando a arca foi trazida para Jerusalém, veio com uma grande procissão, que incluía cantores, seguidos de instrumentistas tocando suas harpas e liras, trombeteiros, e acompanhados pelo som de címbalos e de chifres de carneiro . Vestidos em linho fino, eles cantavam cânticos de júbilo ao som de instrumentos musicais (I Crônicas 15:16
28) e eram acompanhados por brados e aclamações do povo. Mais tarde, na dedicação do templo de Salomão, a celebração incluiu novamente dezenas de músicos (II Crônicas 5:12-13; 7:2-6): “E todos os levitas que eram músicos ... tocando címbalos, harpas e liras, e os acompanhavam cento e vinte sacerdotes tocando cornetas. Os que tocavam cornetas e os cantores, em uníssono, louvaram e agradeceram ao Senhor.” Eles cantaram o Salmo 136, “Ele é bom; o seu amor dura para sempre”. As festividades deveriam durar por duas semanas inteiras. Uma celebração semelhante, tão espetacular quanto as anteriores, aconteceria novamente mais tarde, no retorno do exílio, para “celebrarem alegremente” a dedicação do muro recém-construído de Jerusalém (Neemias 12:27). Dois grandes coros deveriam avançar por cima do muro, em direções opostas. O primeiro coro foi liderado por Esdras, seguido pelos líderes de Judá; então vieram os sacerdotes com trombetas e os músicos instrumentais. O segundo coro era seguido por Neemias e metade do povo. Quando os dois coros se encontraram na Porta da Guarda, juntaram as suas vozes em ações de graças ao Senhor. (Neemias 12:27-40).
                Vez após vez os Salmos acentuam o fato de que a música não é executada para o deleite e entretenimento do músico ou da platéia, mas sim como uma homenagem dirigida a Deus. A razão de ser do músico na Bíblia é falar acerca de Deus e fazer música dirigida aDeus: “Senhor, quero dar-te graças de todo o coração e falar de todas as tuas maravilhas. Em ti quero alegrar-me e exultar, e cantar louvores ao teu nome, ó Altíssimo” (Salmos 9:1-2; 27:6; 30:4; 81:1; 98:1; 105:1-3; etc.). O mesmo princípio pode ser verificado no livro do Apocalipse, onde as criaturas fazem um círculo ao redor do trono de Deus para adorá-Lo e cantar para Ele: “Então olhei e ouvi a voz de muitos anjos, milhares de milhares e milhões de milhões. Eles rodeavam o trono, bem como os seres viventes e os anciãos, e cantavam em alta voz: ‘Digno é o Cordeiro...’” (Apocalipse 5:11-12; 7:9-10; etc.).
      O foco em Deus como o Receptor da música era expresso pelos músicos do templo até mesmo na forma como os músicos se dispunham. A Bíblia nos dá uma descrição detalhada somo como os músicos faziam enquanto ministravam junto ao altar. Enquanto que hoje os músicos cantam olhando a congregação, em um gesto como se estivessem tocando e cantando para eles, na época do templo os músicos não ficavam voltados para a congregação, estavam de frente uns para os outros, de ambos os lados do altar: os levitas com as harpas e liras ficavam do lado oriental do altar (II Crônicas 5:12) e os sacerdotes com as suas trombetas ficavam do outro  lado do altar. Enquanto os sacrifícios eram feitos, eles tocavam a sua música em direção à oferta, dando assim glória e honra exclusivamente a Deus.
Mas o músico bíblico não está satisfeito em apenas dirigir a sua música a Deus. Ele também quer ter certeza de que a sua música agrada a Deus: “Que as palavras da minha boca e a meditação do meu coração sejam agradáveis a ti, Senhor, minha Rocha e meu Resgatador!” (Salmos 19:14; ver também Salmos 104:33-34 e, no Novo Testamento, Romanos 12:1). O que vemos acontecendo aqui não é uma preocupação para deleitar ou entreter a platéia ou a si próprio, mas sim um esforço intencional para produzir uma música que seja digna dAquela a quem ela é dirigida.
Esta preocupação pode ser verificada em vários atributos que caracterizam a produção musical na Bíblia. A escolha dos músicos do templo, os levitas, já indica a importância da função. Foi porque os levitas se distinguiram pela sua fidelidade no episódio da adoração ao bezerro de ouro no monte Sinai, que eles foram separados para os vários serviços no templo, incluindo a música (Êxodo 32:29).
Fazer música para o Senhor exigia habilidade (Salmos 33:3); os líderes dos diferentes conjuntos musicais do templo eram escolhidos com base em seu conhecimento da arte: “Quenanias, o chefe dos levitas, ficou encarregado dos cânticos; essa era sua responsabilidade, pois ele tinha competência para isso” (I Crônicas 15:22). Quando voltamos ao tempo da construção do tabernáculo, notamos que esta qualificação era um pré requisito para qualquer artesão do tabernáculo. Não apenas eles eram cheios do Espírito de Deus, mas também eram cheios de “... destreza, habilidade e plena capacidade artística” (Êxodo 35:31). É interessante notar que esta passagem (Êxodo 35:31-36:2), que fala sobre  Bezalel e Aoliabe, os principais artesãos do tabernáculo, usa a palavra habilidade [ou capacidade (NVI)] cinco vezes, como que para destacar quem quando tratamos com assuntos relativos à casa de Deus, além do Espírito também há necessidade de habilidade e conhecimento.
            De forma semelhante, os líderes dos músicos no templo tinham a responsabilidade de ensinar a outros a arte da música. Fazendo assim, demonstravam a sua preocupação pela qualidade e pelas coisas bem feitas. Apenas o talento não era suficiente; ele precisava ser desenvolvido, refinado e levado à maturidade artística. Primeiro Crônicas 25:6, 7 fala sobre líderes que estavam sob a “supervisão” (al yad) de Davi, “todos capazes e preparados para o ministério do louvor do Senhor.” Música para o Senhor, de forma a agradar ao Senhor, tinha que ser preparada e executada de tal forma que fosse “digna” dEle.
     Parece que a Bíblia não nos apresenta uma lista de músicas que seriam “boas” ou “más”. Também podemos ver os mesmos instrumentos (por exemplo, harpas e liras) sendo usados para propósitos sacros, bem como para ocasiões que foram reprovadas pelos profetas  . De fato, o texto trata, predominantemente, com questões de direção e propósito da produção musical, associando-a com o belo, e nos dando claras instruções sobre como usá-la. Uma vez que este ponto esteja estabelecido - e nós compreendemos o modelo bíblico de música como sendo executada para Deus e agradável a Deus - a questão de “bom” ou “mau” torna-se ultrapassada. O por que encarrega-se do o que e do como. O mesmo acontecerá no nível de nossa busca com relação a estilos. Existe alguma evidência de que haja um estilo em particular usado para a música do templo, que não tenha sido tocado pelas culturas adjacentes? Havia somente um único estilo de música que era apresentada como apropriada para o serviço do templo?
A música na Bíblia certamente era percebida como sendo um dom de Deus que deveria ser devolvido a Ele com temor, ou seja, executada com temor e respeito, como uma oferenda agradável a Deus. Não se tratava de arte pela arte em si mesma, mas arte para Deus. Para o músico bíblico, o mais alto objetivo a ser alcançado por sua arte consistia em cantar e tocar ao Senhor como uma oferta de si mesmo, aceitável a Ele. O Salmo 137, que relata a história de músicos hebreus levados para o exílio, ilustra esta atitude de uma forma muito vívida e ao mesmo tempo resume a visão bíblica da música: “Junto aos rios da Babilônia nós nos sentamos e choramos com saudade de Sião. ... Como poderíamos cantar as canções do Senhor numa terra estrangeira? Que a minha mão direita definhe, ó Jerusalém, se eu me esquecer de ti! Que a língua se me grude ao céu da boca, se eu não me lembrar de ti, e não considerar Jerusalém a minha maior alegria!” (Salmos 137:1-6).
Louve a Deus!
 

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